O encontro entre o Cavaleiro das Trevas e o Detetive do Pesadelo não é nenhum sonho para os fãs…
Todo fã de quadrinhos gosta de ver encontros entre personagens que admira e acompanha. De vez em quando, esses encontros se dão numa espécie de universo próprio e fora da cronologia normal se os heróis que se esbarran são de editoras diferentes. Temos o melhor de dois mundos (literalmente), com esses personagens agindo no melhor da forma para enfrentar um inimigo comum. Mas tudo pode ir por água abaixo quando o roteirista da história não conhece bem algum dos personagens que está escrevendo. É o que acontece com Batman/Dylan Dog: A Sombra do Morcego, um crossover produzido pela Sergio Bonelli Editore e a DC Comics.

Na verdade, a Bonelli parece ter ficado encarregada de todo o trabalho aqui, já que o roteirista e os desenhistas envolvidos são todos italianos e com experiências anteriores em narrar aventuras de Dylan Dog, um investigador paranormal inglês que estrela uma série própria e vários especiais de qualidade – se por acaso você não conhece, experimente algumas edições e pode acabar encantado com a mistura de terror e humor.
Na trama desta edição especial (lançada originalmente em quatro números), o famigerado vilão Coringa viaja até Londres para unir esforços com o Doutor Xabaras, inimigo recorrente de Dylan Dog, para transformar em uma só a fórmula que mata todos e os deixa com um sorriso no rosto, do primeiro, e a fórmula que traz os mortos de volta à vida, do segundo. Batman vai a Londres e se alia a Dylan para tentar deter os planos dos dois vilões.

Seria meio que o de sempre, seguindo a cartilha básica desse tipo de encontro. Porém, logo fica claro que o roteirista Roberto Recchioni só tem intimidade com Dylan, mas não com Batman. O Homem-Morcego e seu alter-ego, Bruce Wayne, são apresentados de modo superficial, quase sem personalidade alguma. Batman aqui é só um vigilante mascarado que banca o durão e aparece na hora H para salvar a todos, pouco mais. Rechionni parece estar ciente disso, já que Batman aparece bem pouco na aventura. Quando Dylan Dog se mete numa aventura paralela com John Constantine, o bruxo e investigador sobrenatural da DC, se passam mais de 35 páginas sem que Batman dê as caras. Também é estranho que, no meio da trama, o Dr. Xabaras saia de cena sem muita cerimônia, o Coringa acabe preso e o vilão que os substitui é um outro inimigo de Dylan Dog.


Como uma aventura de Dylan Dog e seu assistente Groucho no Universo DC, encontrando personagens como Constantine, Mulher-Gato, Crocodilo e Coringa, é até divertido por alguns momentos e piadas – mesmo se todos os personagens da DC estão superficiais demais aqui, seguindo o que acontece com o Batman. A história serve muito melhor ao herói dos quadrinhos italianos que ao Homem-Morcego, que se torna um coadjuvante de luxo apenas, mesmo se seu nome aparece primeiro no título.
Também não ajuda que o tradutor da edição nacional pareça não ter muito experiência em traduzir o Batman. Ou só eu que sou chato e acho estranho o Batman falar coisas como “eu e ele batemos um longo papo” ou “tranquilo, o carro anda sozinho”. O Batman não costuma falar de modo mais formal que isso? Me pareceu estranho, mas digam vocês.
A edição é bonita, com capa cartão e um bom papel couchê, mas mesmo toda essa qualidade não ajuda a disfarçar que a arte de Gigi Cavenago e Werther Dell’Edera não casam bem com os personagens da DC. E olha que Dell’Edera tem muita experiência em trabalhar para o mercado americano, só que não em gibis de super-heróis.
No final das contas, uma edição que – infelizmente – promete mais do que entrega.

Batman/Dylan Dog: A Sombra do Morcego (2024, Panini Comics)
Autores: Roberto Recchioni, Gigi Cavenago e Werther Dell’Edera
216 páginas
Nota: 5 nerds (de 10) 😎😎😎😎😎
Indicado para: Fãs de Dylan Dog, fãs da Bonneli, Fãs de crossovers entre editoras


